A atriz revelou que as mulheres desse meio têm medo de denunciar e prejudicar suas carreiras
Danielle di Donato contou que enfrentou barreiras no universo da arte para chegar no patamar que está. A atriz viu o medo de frente e passou por situações delicadas envolvendo abusos físicos e psicológicos.
“Minha carreira se misturou muito com teatro, porque eu dediquei muitos anos da minha vida ao teatro, porque eu queria ter uma qualidade consistente do meu trabalho e eu sempre acreditei que ele era base disso. Fiquei nessa área durante muitos anos até que entrei pro audiovisual naturalmente.”, contou a artista.
Ela narrou que viveu momentos delicados envolvendo outros profissionais da área e que, na época em que aconteceram, eram tidos como uma situação comum: “Hoje, eu tenho 34 anos, comecei a estudar teatro, fazer teatro amador, viajei com espetáculos. Com 14/15 anos eu já estava vivendo a carreira de atriz amadora e eu acho que há alguns anos existia uma prática muito comum. Acredito que, principalmente para mulheres, era presente um certo abuso. As minhas experiências negativas em razão de ser mulher na profissão são mais no sentido de abusos, que eram tão comuns antigamente, que talvez a gente nem percebia.”.
A atriz deu sua opinião sobre o motivo das denúncias surgirem anos depois: “Acho que, por conta disso, hoje em dia aparecem tantos casos de abusos que foram feitos há tantos anos, porque era uma cultura no nosso meio.”.
“O abuso era no sentido do toque, no sentido da desculpa de que o seu corpo tem que ser livre para o trabalho de atriz e isso quebrava certos tipos de barreiras para que seu corpo fosse tocado, pelo diretor, por colegas.”, contou.
Ela exemplificou algumas situações: “Algumas outras coisas eu levei um tempo para entender como abuso, por exemplo, um fotógrafo que convida atrizes para fazer material para elas alegando que ele também precisa de material para portfólio. Geralmente as atrizes precisam de material fotográfico porque é uma coisa cara, então quem está na luta sabe que vale ouro um fotógrafo te convidar para um ensaio. E no final o fotógrafo usa do nome dele e da oportunidade para tocar as modelos.”.
Dani revelou que as mulheres no mundo da arte têm medo de serem prejudicadas ao denunciar esses abusos: “Muitas das questões como mulher vem disso. Dessa cultura que eu sinto que hoje está mudando, tanto que temos visto denúncias de pessoas enormes no audiovisual. Isso demanda muita coragem, porque como a gente sabe, para a sociedade geralmente a vítima é a que menos se beneficia quando expõe sobre um assunto como esse. Além disso, tem sempre a ameaça de você ser queimada porque reclamou de algo ou porque expõe algo. Eu também já trabalhei com atores que faziam a mesma função que eu, do mesmo jeito, tinham a mesma experiência e idade. E depois de um bom tempo que eu estava trabalhando eu descobri que ganhavam muito mais do que eu.”.
Ela contou sobre algumas situações em que sofreu críticas sobre sua aparência: “Já passei por situação de estar gravando uma cena e o diretor olhar pra mim na frente da equipe inteira e falar ‘Não vou deixar você sentada nessa posição porque tá uma barriguinha meio exagerada’, ou então coisas do tipo ‘Você precisa fazer um botox, porque a sua testa está muito marcada’. Dificilmente um diretor falaria isso para um homem numa situação como essa. Parece que nos tiram o direito de envelhecer também. Acho que isso é uma questão feminina bem pontual, porque é bonito ver os atores envelhecendo, grisalhos, mudando e nós mulheres não podemos aparecer grisalhas, não podemos aparentar que somos seres humanos em progressão, assim como todos os outros.”.
Na comparação entre homens e mulheres, a atriz revelou que algumas situações acontecem, principalmente com relação à aparência: “Também vivi situações como o produtor me ligar e perguntar se eu poderia viajar para um trabalho e eu falar que sim, e a pessoa perguntar se o meu marido ficaria bravo por eu viajar. São coisas que eu tenho certeza que nunca vão acontecer com um homem. Nunca vão ligar para um ator e perguntar se a esposa dele vai ficar brava caso ele precise viajar. Minhas experiências negativas como mulher no audiovisual tem sido essas, mas eu tenho visto uma evolução muito grande no meu meio.”.
Por fim, Dani contou que nenhum desafio foi superior ao seu amor pela arte, sua força de vontade e o desejo de fazer acontecer. Ela venceu barreiras e produziu um especial independente e provou que a força da mulher é maior que qualquer coisa.
A artista disse que esse projeto deu um salto importante em sua carreira: “Hoje eu vejo uma mudança de pensamento e de cultura muito grande! De valorizar a mulher, de nos dar voz, de termos a nossa voz e usá-la. Como produtora da ‘Sheila de Charme’, a experiência foi muito positiva porque como o trabalho foi independente, eu que escolhi com quem eu iria trabalhar na equipe, eram pessoas que estavam dispostas a fazer a série. Em nenhum momento eu fui subjugada pela minha habilidade em produzir e roteirizar, muito pelo contrário. Fui respeitada por ter conseguido montar esse projeto na raça”.