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Diversos / Representatividade

Primeira atriz cadeirante em novelas fala sobre representatividade na TV e no teatro: ‘Mundo de possibilidades’

Tabata Contri fez história ao se tornar a primeira atriz cadeirante na TV. Em entrevista exclusiva, Contri desabafa sobre aceitação e novo papel!

Isabelly de Lima Publicado em 26/10/2024, às 10h00 - Atualizado às 13h57

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Tabata se tornou um símbolo de superação e talento - Reprodução / Instagram / @tabatacontri
Tabata se tornou um símbolo de superação e talento - Reprodução / Instagram / @tabatacontri

Tabata Contri vem se destacando no cenário teatral por ser um símbolo de representatividade da comunidade PCD. Com seu talento magistral, a atriz consegue misturar diversas emoções em cenas profundamente emocionantes, se tornando a primeira atriz cadeirante em uma novela no Brasil. Atualmente em cartaz com a peça “Fractal”, vem alcançando um novo patamar na carreira.

Confira a seguir uma entrevista exclusiva com Tabata Contri:

1. Em "Fractal", temas como diversidade de corpo, gênero e etnia são centrais. Como você vê a representação da mulher com deficiência na peça e como isso reflete a realidade das PCDs no teatro e na mídia?

“Me vejo dentro, fazendo parte, num coro, pertencente. A mulher com deficiência está ali como deveria estar na sociedade, ocupando todos os espaços. Quando outra mulher com deficiência está na plateia, ela também se vê ali e isso abre um mundo de possibilidades”.

A atriz Tabata Contri - Reprodução / Instagram / @tabatacontri

2. Você fez história como a primeira atriz cadeirante em novelas no Brasil, com personagens como a advogada Juliana em "Travessia". Como essa trajetória influencia sua abordagem na peça "Fractal", que também lida com questões de inclusão e diversidade?

“Fui a primeira, mas não quero ser a única. Pessoas com deficiência muitas vezes são as únicas nos lugares onde estão. E isso pode até parecer uma coisa boa, mas definitivamente não é. “Fractal” lida com questões que atravessam o universo feminino. Eu sou uma mulher. E isso já basta para ser impactada com os temas que abordamos ali. A gente precisa pensar nessas intersecções. Quais mulheres conquistam os espaços? São negras? Lgbts? Com deficiência?”.

3. A peça explora uma pluralidade de histórias e vivências. Como você, pessoalmente, se conecta com a narrativa de "Fractal" e sente que o espetáculo amplia a visibilidade das mulheres PCD no teatro?

“Assim como a arte imita a vida, a vida imita a arte. Se a gente não estiver ali, como estaremos em sociedade? E vice-versa! A nossa presença nos lugares trazem mudanças consideráveis pensando em acessibilidade arquitetônica, e principalmente atitudinal". 

Pessoalmente todos os temas abordados na peça me atravessam principalmente como mulher. Mas é curioso como às vezes a deficiência chaga antes, até para mim. Me ver como uma mulher e os outros me enxergarem como tal é um processo. Já participei de testes de casting que o papel era para uma mulher que fosse mãe. Sou mulher e sou mãe, mas a resposta que tive foi que “esse papel não é para cadeirante”. Como assim? Porque há essa divisão se uma mulher cadeirante também é mãe?".

4. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou como atriz ao longo de sua carreira, e de que maneira a peça "Fractal" contribui para a desconstrução de barreiras no universo das artes cênicas?

“Praticar o ofício ainda é o maior desafio! Comecei a fazer teatro em 2003, fiz muitos cursos, tirei o DRT em 2008, na época que fiz uma participação em uma novela na Band. Mesmo assim, meus colegas fizeram mais testes do que eu, consequentemente pegaram muito mais trabalhos do que eu. Em alguns momentos eu mandei meus materiais para os castings sem mostrar a deficiência e aí eu fui chamada pro teste. Óbvio que essa omissão não se sustentava porque eu chegava no teste com a minha cadeira de rodas, mas pelo menos eu tinha a oportunidade de passar pelo processo seletivo, de mostrar meu trabalho”. 

“Na maioria das vezes não passava em processos comuns, o mercado ainda não estava preparado para a nossa presença. Só passava em processos que estavam pré -definidos para uma pessoa com deficiência. Isso me incomodava muito. E também não era suficiente para eu tirar o meu sustento. Fui trabalhar com outra coisa, fui ser consultora de diversidade e Inclusão e atender o mundo corporativo. Portanto, a maior dificuldade ainda é viver do ofício que eu escolhi como profissão”. 

5. "Fractal" aborda várias formas de diversidade. Como você acha que o espetáculo pode impactar a percepção do público sobre inclusão, especialmente em relação à representatividade de mulheres com deficiência?

“O espetáculo é um soco no estômago. Ele por si só já impacta. Porque os textos são profundos e porque o elenco é repleto de mulheres diversas. Agora eu estar ali abre caminhos para que outras atrizes e atores com deficiência também estejam não só no palco, mas em qualquer profissão porque a gente existe. Também temos sonhos e boletos para pagar. E o trabalho é a maior ferramenta que a gente tem para realizar os nossos sonhos!".