Autora de ‘Mukani Descobre a Sua Força’ fala de suas inspirações e como amizades influenciaram sua obra
Renata Tolli é uma escritora com descendência tupi-guarani e que luta para ajudar a sociedade a crescer. “Eu me considero uma contadora de histórias. Tive a oportunidade de lançar um livro, mas tenho outros 35 contos escritos. Não publiquei nenhum ainda, pois acredito que Mukani era uma pauta necessária nesse momento. É um projeto tão pessoal, que até remete para épocas em que fui ativista e punk, com um moicano enorme”, se diverte.
A obra “Mukani Descobre a Sua Força” conta a história de uma menina indígena de nove anos, que apresenta bravura e muito mistério envolto em mágica. Originária da etnia Huni Kuin, ela possui o poder de se comunicar com animais, plantas e os espíritos encantados Yuxibu, sendo a única pessoa capaz de ajudar o povo de sua aldeia contra o plano de desmatamento do Mr. Txakabu, o Senhor do Mal.
Mas narrar essa história não foi algo simples, pelo menos no início. Renata teve ajuda de dois grandes amigos de jornada: Virgínia Gandres e Joaquim Maná. “Tenho em meu sangue uma história de mais de 5000 anos e não sabia contar nada disto para os meus filhos. Me sentia envergonhada. Com ajuda de uma amiga que tenho nas Nações Unidas, a incrível Moran Sol Broza, recebi a indicação para entrar em contato com a Virgínia, arqueóloga carioca especializada em tribos indígenas. Ela tinha acabado de fazer um filme/documentário chamado ‘Cantos da Terra’, lá no Acre, e foi dali que começamos a construir o projeto”, relata.
Tolli mora em Israel, enquanto Virgínia reside na capital carioca e Maná no Acre. Com a pandemia, eles se conheceram pessoalmente apenas no lançamento do livro. “Os vi no evento de lançamento, então todos os encontros que tivemos antes foram remotos. Ela no Rio, eu em Tel Aviv e o Maná em Rio Branco. Queria fazer algo autêntico, focado em crianças. Joaquim, o líder da tribo Huni Kuin, foi uma adição natural, pois após eu ser apresentada a ele, me encantei com sua história de superação. Ele entendeu que a educação foi uma experiência libertadora, que o fez evoluir de um seringueiro para um professor com PhD em Linguística”, conta.
Hoje, após anos de trabalho, Renata sinaliza que já pode se dedicar à carreira de contadora histórias, sem maiores distrações. “Estou em uma posição social em que eu posso fazer este tipo de ação e posso me dedicar à carreira de escritora. Tenho o privilégio de contribuir com uma mensagem positiva. Ao invés de comprar uma Louis Vuitton, quero ajudar a sociedade a crescer. Existem pessoas tão vazias, que me fazem acreditar que a maior riqueza é a intelectual e não a financeira”, ressalta.
A ideia de Mukani vem exatamente de dar mais riqueza interna àqueles que quiserem ler o seu conteúdo. “A história era muito maior do que foi apresentada no livro, mas decidimos compactá-la para que a leitura fosse dinâmica para as crianças. O que também ajudou para diminuir a história foi o formato dos três idiomas num livro só. Era uma condição do Maná, que quis contar toda a mitologia, mas queria que isso também pudesse ser lido no idioma da tribo dele. Meu olho brilhou tanto quando me imaginei podendo levar a linguagem indígena para o mundo todo através da minha obra”, fala, orgulhosa.
E a intenção é que a heroína não fique apenas nas páginas literárias. “Meu principal objetivo é transformar o livro em um filme e, quem sabe, em um universo em realidade virtual. Já temos projetos com bandas para trilha sonora, com artistas como Project 46 e Rafael Bittencourt participando”, revela.
E finaliza com um recado importante. “Eu acho que todos nós precisamos da imaginação para seguir vivendo e lutando. A capacidade imaginativa de uma pessoa é algo incrível e único e nunca deve ser menosprezada. Acho lindo poder viver de sonhos e, quando a sociedade para de acreditar nisso, um pouco de cada um de nós morre. Um super-herói pode ser qualquer um de nós estendendo a mão ao próximo”, conclui.
Entrevista feita por Marcos Flranke.
João da S.Bueno Neto
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