A tarefa parece árdua e, por vezes, vamos adiando, tapando o sol com a peneira... Mas superar as marcas de experiências negativas devolve nossas forças e torna o viver mais leve e feliz. A gente ajuda você a chegar lá
Seja honesta consigo mesma:
sua vida, até aqui, foi
feita só de amores ou você
também já sofreu com grandes dores?
Se escolheu a segunda resposta,
vá além e reflita se alguma dessas
passagens dolorosas ainda causa um
incômodo enorme no seu peito,
quando a lembrança vem à mente.
Nesse caso, o reboliço ocorre porque
você ainda não abriu mão desse sofrimento.
Em outras palavras: não se
perdoou nem à pessoa que a feriu.
Pode parecer impossível desculpar
alguém que tenha nos feito um mal
tremendo, mas a coach
Heloísa Capelas, diretora do Centro Hoffman
(SP), mostra que, mais do que viável, o perdão é um caminho necessário
para levar uma vida plena. “Se
você realmente quiser perdoar, vai
conseguir. Muita gente me diz: ‘Ele
não merece absolvição!’. Se ele merece
eu não sei, mas você certamente
tem direito de se perdoar”, afirma
a especialista, que acaba de
lançar o livro Perdão, A Revolução
Que Falta (Ed. Gente). Com base na
obra, esclarecemos pontos importantes
sobre o assunto que vão ajudá-la
a iniciar o movimento do perdão.
E entender por que ele fará a
diferença na sua trajetória.
Por que perdoar
aquele que me feriu?
A resposta é simples e direta: por
você. Quer um exemplo? Se a festa
do seu vizinho acordou seu bebê à
meia-noite e isso a incomodou, você
precisa perdoá-lo. “Mas por quê, se o
vizinho foi tão sacana? Porque, quando
você for amamentar seu filho, é seu
leite que sairá com raiva, um veneno
poderosíssimo”, responde Heloísa.
Quem eu devo perdoar?
A expert destaca que as pessoas mais
importantes a serem desculpadas estão
ao seu lado: família, amigos, vizinhos
e colegas de trabalho – especialmente
aqueles com quem seu santo não
bate. “Tudo e todos que a magoam
também: um assaltante, uma pessoa
que a feriu, um ente querido que se foi.
Eventualmente precisamos perdoar
inclusive a Deus”, completa. Ou seja:
há muito trabalho pela frente.
A pessoa tem que me
perdoar para o ciclo
ser completo?
“O poder do perdão é forte
justamente para quem perdoa, não
para quem é perdoado. O perdão é algo individual e intransferível,
não é a reconciliação em si”,
esclarece a coach. Quando perdoo
alguém que me feriu, essa pessoa
nem precisa ficar sabendo disso
necessariamente. Que dirá estar
disposta a fazer esse mesmo
movimento de libertação... “O
outro, muitas vezes, nem sequer
está arrependido do que fez — e
tudo bem. O que importa é a forma
como você se sente diante da
experiência em questão”, pondera.
Por que é tão
difícil desculpar?
“Quando pesquiso a raiz disso,
encontro sempre pactos de
vingança”, diz Heloísa. No ciclo
da vingança você precisa estar
com dor. A dor gera raiva e, com
ela, você pode se vingar de quem
a feriu. O apego à raiva torna o
perdão um caminho difícil, mas
livrar-se disso pode salvar sua vida.
O perdão pode se
tornar uma atitude
automática?
Às vezes perdoar é rápido, às vezes
demora. “Mas uma coisa é certa:
não é automático, tem que trabalhar
nisso todos os dias da sua vida.
Não existe crescimento sem dor e
sem esforços”, afirma Heloísa. Por
isso, seja compreensiva com você
mesma e persista nesse propósito.
Em que âmbitos
da vida a remissão
é saudável?
“Em todos ”, garante a coach.
Perdoar traz liberdade, impulsiona
o sucesso profissional, a vida
amorosa e a relação familiar e ainda
dá sabor à vida. Perdoe para viver
satisfeita, com saúde e bem-estar.
Perdoe para se livrar de um peso que
a impede de alçar voos mais altos!
4 PASSOS PARA
PERDOAR ALGUÉM
É trabalhoso, mas possível e libertador.
Veja como conseguir e seguir em frente...
1. TOME CONSCIÊNCIA
DA SUA MÁGOA
Para isso, é preciso se afastar
da raiva. “Esse sentimento de
revolta toma conta de nós mais
rápido do que a dor – ele surge
justamente para nos defender de
senti-la”, explica Heloísa. Sabe
quando a gente tenta mascarar o
que sentiu, com afirmações como
“Eu nem liguei, essa pessoa é
horrível, eu não quero nem saber
dela mais!”? Esse comportamento
de aparente desapego esconde
uma dor que nos torna frágeis.
“Para ter consciência dela,
pergunte-se: ‘O que é que esse
acontecimento fez comigo? O que
nele provocou a minha fraqueza?’.
Reflita sobre todas as vezes que
essa fraqueza agiu na sua vida e
como isso a prejudicou”, orienta.
2. FALE SOBRE A SUA
DOR PARA ALGUÉM
Muita atenção a este item: contar a
sua dor é diferente de falar mal do
outro e apontar o dedo. Trata-se de
relatar o que ela significa para você
e por que a machuca tanto. “Quando
fala, você localiza a dor e percebe
que não é a primeira vez que ela
se apresenta”, diz a coach. Escolha
alguém de confiança para ser o
ouvinte: um terapeuta ou um grande
amigo. Se for realizar essa fase
sozinha, escreva. “O importante
é que essa dor saia de você, da
maneira que for. Falando da mágoa
você centraliza a questão na sua dor,
não na culpa do outro”, completa.
3. ACEITE E PERDOE
A SUA FRAGILIDADE
A terceira fase para perdoar
verdadeiramente alguém consiste em
descobrir o quanto você é humana.
Existe um lugar dentro de nós que é
vulnerável — você pode reconhecê-
lo e acolhê-lo. “Ao abraçar a sua
própria fragilidade você pratica a
autocompaixão, se respeita e aceita.
Percebe que não é feita só de raiva,
rancor, vingança. Se dá conta de que é
frágil e precisa de nutrição e carinho”,
revela a especialista. Acolher a si
mesma é um passo importante para a
compaixão. Aceite-se: a sua aprovação
é a única que importa, de fato. Perdoese
por sentir dor e por causar dor.
4. CONQUISTE A CAPACIDADE
DE DESCULPAR O PRÓXIMO
Na quarta e última fase, ao
identificarmos a nossa própria
humanidade — que implica possuir
fragilidades e merecer ser perdoada
por elas —, você finalmente se torna
capaz de enxergar que a realidade
do outro também é essa. Se eu não
sou perfeita, o outro também não
é. Paramos de cobrar a perfeição
utópica quando percebemos que
somos imperfeitos no nosso íntimo.
“E assim se dá um perdão inteligente,
que não é fruto de bondade. Eu não
perdoo por ser boa, eu perdoo porque
sou inteligente. Não me interessa
guardar essa mágoa, que me lembra
todos os dias da minha própria
fraqueza. Quando eu deixo ir, eu posso
retomar a minha força e não ser mais
refém dessa dor”, finaliza a expert.