A matriarca Izabel (Luís Melo) - Divulgação
CINEMA

"Casa Izabel" usa alegoria para falar sobre a Ditadura

A contradição e a hipocrisia, parte de que, mesmo montados os homens estão apenas brincando, e seguem exercendo o patriarcado.

Ezatamentchy Publicado em 05/07/2024, às 09h24

"Casa Izabel (Brasil, 2022)" Como em uma crítica social de Buñuel ou Pasolini, “Casa Izabel” usa da alegoria para tecer seus comentários acerca de um dos períodos mais obscuros do Brasil: a ditadura militar. O diretor Gil Baroni se inspirou em um livro de fotografias que mostra os frequentadores  de uma casa de homens americanos vestidos de mulher,  entre 1950 e 1960, os quais se reuniam secretamente.

Na década de 1970, há um casarão, onde os que chegam devem vestir-se de mulher e deixar suas armas na porta. Ali o externo é esquecido e os homens se transformam em damas. Regina (Andrei Moscheto) é a novata. Guiada pela criada Leila (Jorge Neto), ela entra nesse mundo, um aparente refúgio e espaço de liberdade para quaisquer fantasias.

Paralelamente, as preocupações da mulher e empregada Dália (Laura Haddad), que cuida do lugar, são bem reais: a convalescença da matriarca Izabel (Luís Melo) e o sumiço do filho Daniel, um universitário militante. A contradição e a hipocrisia, parte de que, mesmo montados os homens estão apenas brincando, e seguem exercendo o patriarcado.

“Casa Izabel” segue uma narrativa ambiciosa, seu próprio título sugere a libertação, mas no entanto o casarão, de arquitetura colonial,  parece remeter ao período escravocrata, enquanto a fotografia, de Renato Ogata, emoldura, com arte, vestidos luxuosos, rostos pintados e um inteligente jogo cênico que ambienta diálogos repletos de simbolismo.

Aos poucos, por meio de uma mistura deliciosa de kitsch e tensão, descobrimos que a “Casa Izabel” guarda muitos segredos. O filme não fala apenas do que se vê, mas do que está abaixo da superfície de uma sociedade conservadora e de convenções sociais ultrapassadas. 

Potente, a trilha traz além de medalhões da música erudita, como Chopin e Beethoven,  um pouco de anacronismo com músicas de Elza Soares, Tim Maia e Roseane Santos.

Mais maduro que o filme de estreia do diretor,” Alice Júnior(2019)”, Baroni e o roteirista Luiz Bertazzo expõem diferentes formas de desejo, de orientação, de sexualidade e de discurso. Os empregados são colocados no posto de protagonistas, enquanto os hipócritas burgueses, refugiados em disfarce, são uma representação de uma sociedade tão contemporânea quanto na década de 70. 

Nem tudo foi contado sobre a ditadura, e há muitos filmes nacionais sobre o assunto, nunca porém de um prisma tão queer. Uma obra que usa da simbologia dos corpos para tratar temas como política, misoginia e patriarcado.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib

Por Ezatamentchy 

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