Em 1928, Virginia Woolf publicou “Orlando" - Reprodução
CINEMA

Chega aos cinemas documentário inspirado na eterna Virginia Woolf

"Orlando, Minha Biografia Política" é filme ensaístico que fala sobre o que foi alcançado, mas acima de tudo justifica o que falta alcançar

Ezatamentchy Publicado em 03/07/2024, às 13h41

Por Eduardo de Assumpção*

"Orlando, Minha Biografia Política" (Orlando, Ma Biographie Politique, França, 2023) Em 1928, Virginia Woolf publicou “Orlando", o primeiro romance em que a personagem principal transcende o gênero no meio da história. Um século depois, o filósofo, da teoria queer, Paul B. Preciado decide escrever uma carta para Woolf: seu Orlando saiu da ficção e leva uma vida que jamais poderia imaginar. 

O longa de estreia de Paul B. Preciado não é uma adaptação de “Orlando”, nem é a biografia de seu diretor, um homem trans. Por outro lado, toma o texto da escritora como base para explicar um pouco de sua própria vida e transformá-la, em algo, desta vez, político.

O livro é dissecado por um bisturi e ao longo do filme, o espectador ouvirá os versos da obra de Woolf na boca de muites pessoas trans e não-binárias que passam em frente à câmera dizendo que vão interpretar Orlando, vão até recitar partes da obra. Mas também vão contar parte de sua vida, sua transição, suas vivências trans, bem como o pensamento traçado pelo filósofo.

Em “Orlando: Minha Biografia Política", aparecem as realidades de todos os seus protagonistas. De todas aquelas pessoas que, dizendo-se Orlando, contam como são suas vidas trans e não-binárias e mostram como com suas ações, com seus corpos, desafiam o estabelecido.

A influência de Jean-Luc Godard é evocada aqui e ali materializando o protesto político em uma clima de nouvelle vague.  O célebre cineasta  morreu durante a produção, que é mencionada por Jenny Bel'Air, uma mulher trans, hoje com 70 anos, que já foi um ícone da cultura noturna dos anos 1980. 

O pioneirismo trans com nomes como de Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera é retratado, assim como uma incansável reivindicação pelo nome social de cada um desses Orlandos. Os fotógrafos Pierre e Gilles também aparecem como médicos de um dos Orlandos.

Como a própria identidade trans, o longa é muitas coisas ao mesmo tempo: um manifesto político, uma biografia individual e coletiva e uma releitura do romance de Virginia Woolf, que já tem quase cem anos. As fronteiras entre ficção e documentário são tão fluidas quanto as identidades; a forma é não-binária.

O que Preciado ousa fazer com esse arranjo de transferência documental é um jogo incondicionalmente político de ambiguidades de papéis e cenários, de vozes, de textos que são lidos e falados, e até cantados e dançados, em “Orlando, Minha Biografia Política”.
O pioneirismo trans com nomes como de Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera é retratado

Ganhador do Teddy, no Festival de Berlim, “Orlando, minha biografia política” é um filme militante. Um filme ensaístico que fala sobre o que foi alcançado, mas acima de tudo justifica o que falta alcançar, sem recorrer ao vitimismo ou ao exibicionismo, focando na dignidade das pessoas forçadas a lutar a vida toda. 

Um filme cuja natureza parece derivada dos personagens das vidas que retrata: “Orlando, Minha biografia política” flui entre gêneros cinematográficos, entre ficção e não-ficção, tornando quase impossível uma classificação binária de gênero. É pura revolução e poesia!

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib

Por Ezatamentchy 

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