Parece que foi ontem que Monica Iozzi despontou na TV como repórter. Mas sua trajetória já soma oito anos com sucessos. Cheia de garra e sem medo do desconhecido, a gente aposta: ela ainda vai voar muito mais longe
Bater um papo com a estrela
Monica
Iozzi, 35 anos, é deliciar-se
com a leveza de alguém que sabe
exatamente o que quer e se move
na direção dos próprios sonhos. “Ouço muito meu coração, as minhas vontades!
Se vai dar certo, eu não sei. Mas sei
que preciso tentar”, confessa. E desde
cedo foi assim. Opinião alheia? Caminho
mais fácil? Ambiente mais receptivo?
Nunca foram essas suas diretrizes para
fazer algo. Tanto que uma das marcas da
atriz é mudar de rumo e lançar-se, cheia
de coragem, em desafios que a tiram da
famosa zona de conforto. Quem não se
lembra, por exemplo, de sua entrada no
programa jornalístico Custe o Que Custar
(2009), o CQC, da Band? Até a chegada
da morena, o programa era composto
apenas de homens. “Isso me lembrou
que, quando eu era pequenininha, o padre
disse que precisava de coroinhas para
as missas. Comecei a prestar atenção e vi
que só tinha meninos. Fui questioná-lo
se eu podia participar e ele permitiu. Eu
nem gostava de ir à missa, fiz mais para
testar se conseguiria e para aparecer
mesmo! Nunca vi no meu gênero um empecilho
para fazer algo”, conta. De lá para
cá ela já foi comentarista do Big Brother
Brasil (2014), fez novela (Alto Astral,
2014), apresentou o Vídeo Show (2015) e
recentemente encarou sua primeira protagonista,
na série Vade Retro. Autêntica,
fala com paixão e sem filtros dos temas
pelos quais se interessa: política, desigualdade,
direitos das mulheres, e por aí
vai. Tamanha sinceridade já rendeu até
um processo – Monica foi condenada a
pagar 30 mil de indenização ao ministro
Gilmar Mendes por discordar de uma
de suas atitudes num post na internet.
Conheça um pouco mais dessa mulher
versátil e decidida. É de inspirar!
Quais são as suas
lembranças da infância?
Nasci em Ribeirão Preto, cidade que me remete
a quintal de vó, pé de jabuticaba carregado, brincar
na rua com os 23 primos... Uma delícia!
Você parece ser superfamília.
Como foi sair de casa?
Fui para Campinas aos 19 anos para cursar artes
cênicas, pois consegui uma bolsa na Unicamp.
Desde os 15 anos eu dizia que queria me mudar.
O destino sonhado, porém, era o Rio de Janeiro,
pois achava que todos os atores moravam lá.
Então a dramaturgia
é um desejo antigo?
Sim, desde criança eu já sonhava em atuar.
Imitava a viúva Porcina (Regina Duarte), de
Roque Santeiro (1985), amava a Duda (Malu
Mader), de Top Model (1989), e digo que se
houver um remake de Vale Tudo (1988) e
não me derem o papel da Heleninha Roitman
(Renata Sorrah) ficarei magoadíssima. Aos 16
anos eu já estava decidida.
Como soube da seleção
para o programa CQC?
Uma amiga me avisou. Para participar, era preciso
mandar um vídeo. Comentei com um primo
e ele se animou, arranjou uma câmera. Eu
tinha um terninho que usava para trabalhar em
eventos, pedi uma gravata emprestada e saímos
gravando em Ribeirão, no maior improviso. Para
minha surpresa, o vídeo passou na peneira.
Achava que iria vencer?
Acreditava que essas coisas de televisão eram
combinadas. Pensava: “Ah, é porque eu sou divertida,
mulher. É interessante me deixar na competição,
mas, na próxima fase, já era...”. Aí, passava
de novo! Isso ajudou, porque eu não fiquei
nervosa. Resolvi curtir, conhecer os bastidores...
Quando anunciaram, fiquei muito surpresa!
Como foi a experiência?
O começo não foi fácil. O público era muito resistente
à ideia de ter uma mulher ali. Além disso,
cobri por quatro anos o Congresso Nacional, ambiente
repleto de machismo. Já na primeira entrevista,
um deputado veio passando a mão pela
minha cintura. Falei que queria respeito e dei um
tapa na mão dele! Ali eu já percebi que teria que
ser durona. Foi minha postura até o fim.
Com tudo o que viu nos anos
de CQC e o que acompanha hoje,
acredita que o país tem jeito?
Eu digo que o meu fio de esperança está fino,
mas é de aço e não se rompe. Temos que crer e
lutar. Fico triste, mas desistir não é uma opção.
Deu medo de deixar o Vídeo
Show e tentar a carreira de atriz?
Não! Não sou uma pessoa muito ligada a estabilidade
e segurança. Sigo meu coração. É claro
que podia dar errado. Mas encarei com muita
alegria, porque era um desejo muito forte.
Conte sobre como foi receber o
convite para ser protagonista e viver
a Celeste, de Vade Retro?
Inusitado! Eu e o Otaviano estávamos apresentando
um prêmio, e o Mauro Mendonça Filho
disse que queria falar comigo. Marcamos uma
reunião e ele contou do projeto. Fiquei empolgada,
mas tensa, é claro! Quando ele disse que
eu ia contracenar com o Tony Ramos, pirei!
Tem algum tipo de personagem
que gostaria de interpretar?
O que me interessa é fazer papéis desafiadores.
Não tenho medo nenhum, o novo me estimula.
Agora eu estou buscando personagens que dialoguem
menos com o humor.
Acompanha as coisas que
são publicadas sobre você?
Às vezes... Quando não é legal, tento entender,
mas não perco o sono. Não dá para levar as críticas
tão a sério. Senão a gente enlouquece e perde
nossa essência tentando agradar ao outro.
Por que saiu das redes sociais?
Acho que elas nos tomam muito tempo. Outra
coisa é que falo sobre temas como direitos das
mulheres, da população LGBT, política, e algumas
pessoas reagem com muito ódio. Antes de
voltar, preciso recobrar a fé no ser humano.
O que mudou com a fama?
Não me sinto diferente. Às vezes até me questiono
se tenho que mudar em alguns pontos.
Uma coisa que passa na minha cabeça, sempre,
é ter a consciência de que estou sendo
ouvida por milhões de pessoas. E aí, o que eu
quero falar? Essa é a preocupação: adequar o
meu discurso.
Se sente melhor hoje
do que aos 20 e poucos anos?
Com certeza! Eu era muito passional e impulsiva.
Hoje, aprendi a me domar.
O que ainda falta lapidar?
Sou caótica com horários. Se não me policio,
vou dormir às seis da manhã. Também preciso
conseguir me colocar mais, deixar claro o que
quero, quem eu sou e o que penso.
Como lida com o envelhecimento?
A sociedade age como se as mulheres não tivessem
o direito de envelhecer. Isso porque a idade
mexe com o que as pessoas consideram mais valioso:
a beleza, a jovialidade. É claro que eu senti
as mudanças: antes não fazia nada para manter
o corpo. Hoje, preciso me cuidar. Mas quero ser
uma mulher bonita de 40, de 50 anos... Viver a
minha idade real, envelhecendo bem.
E quais são seus cuidados?
Não durmo maquiada, passo filtro solar e hidratante,
sempre. Não tenho paciência para
academia, então estou num momento de testar
modalidades para ver o que me agrada. Tenho
uma boa refeição por dia, só. No geral é o jantar,
com muita salada, grãos... Mas posso passar horas
sem comer... Aí belisco um pouco aqui e ali.
Você está solteira e disse
que precisava disso. Por quê?
Eu vinha emendando relações havia 15 anos.
Nunca me preocupei com essa coisa de amor
da vida, me envolvia com pessoas para compartilhar
coisas boas naquele momento. Estar
sozinha é se redescobrir. Sempre fui muito de
fazer concessões, de trocar. Agora estou aprendendo
a me ouvir, ir no meu tempo, focar nos
meus planos. É uma liberdade incrível!
É feminista?
Com orgulho! Muita gente não entende o que
isso significa. Veja, a gente não deseja estar acima
dos homens. Queremos igualdade de direitos
e deveres, também. O machismo, quando levado
ao extremo, mata. O feminismo, quando levado
ao extremo, impede que as mulheres morram.
Apesar de muita coisa já ter mudado, ainda há
muito a conquistar! Temos que lutar para exercer
a mesma função ganhando o mesmo salário,
para usar a roupa que a gente quiser sem que isso seja colocado como justificativa
para um abuso, para sermos ouvidas
e respeitadas no ambiente de trabalho...
Outra coisa que precisa mudar é a ideia
de que as mulheres competem entre si,
enquanto os homens são uma fraternidade.
Vamos nos unir e nos fortalecer!
Qual é o barato
de ser mulher?
Acho que a gente tem um olhar mais sensível,
profundo, que consegue ler nas entrelinhas.
Tem uma pesquisa que diz que
temos mais canais de atenção do que os
homens. Eles conseguem focar em uma
coisa por vez; a gente, em três, quatro.
Um grande sonho?
Pegar o Hugh Jackman (risos). Falando
sério: quero fazer um filme
que seja o trabalho da minha
vida. Ah, e ganhar uma
Palma de Ouro!
3 dicas para ter a coragem
de buscar seus sonhos
1- Pergunte-se: “Do que eu
tenho medo?”. Uma vez com
a resposta, comece a pensar
em como transpor o ponto
que empaca a sua mudança.
Use esse questionamento
para clarear as ideias e
abrir as possibilidades.
2- Dê espaço ao novo.
Precisamos deixar coisas
pelo caminho para que as
novas aconteçam. O convite
para ir para a Globo só
apareceu quando eu abri
mão do CQC e da segurança
de ser contratada da Band.
3- Aceite que pode, sim, dar
errado. E tudo bem! É melhor
fazer a tentativa do que
amargar um eterno “e se...”.