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O menino que devorava livros

Thompson Vitor, de 15 anos, tomou gosto pelo conhecimento folheando os exemplares que a mãe recuperava nas lixeiras de Natal (RN). Graças ao estímulo e à sua dedicação, ele chegou mais longe do que ousava sonhar

Máxima Digital Publicado em 10/06/2015, às 12h40 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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menino livros - shutterstock
menino livros - shutterstock

"Eu, os meus pais e os meus dois irmãos, um de 19 anos e outro de 14, levamos uma vida simples no bairro de Paço da Pátria, zona leste de Natal. O meu pai, José, vende salgados, e a minha mãe, Rosângela, já atuou na produção de tijolos, na colheita de algo- dão, na pesca, como doméstica... Hoje recolhe e vende materiais para recicla- gem. Mesmo sem acesso à educação, já que teve que contribuir para o sustento da família desde os 7 anos, a minha mãe sempre acreditou que poderia ajudar a escrever um destino diferente para nós. O caminho para isso, ela afirmava, era a educação. Além de voltar para casa com os materiais recicláveis, ela trazia jornais, revistas, gibis e livros que eram descarta- dos pelos mais ricos da cidade. Eu ficava encantado: aproveitava cada minuto lendo, desde reportagens sobre famosos até explicações de química, por exem- plo. Quando cheguei à idade de cursar o ensino fundamental, a mamãe conseguiu para mim uma bolsa de estudos numa es- cola cooperativa de Natal. Todos os dias acordava às 5h30 da manhã e percorria 6 km de bicicleta para chegar lá. Em 2013, quando estava prestes a concluir o 9º ano, fiz o primeiro concurso da minha vida, pleiteando uma vaga no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Infelizmente não obtive sucesso. Fiquei na 21a posição — eram apenas 18 vagas. Mesmo frustrado, não desisti. No ano seguinte, realizei novamente a prova e fui muito além do que esperava: fiquei em primeiro lugar no meu curso e no exame todo! A felicidade foi imensa! Coisas boas continuaram acontecendo: graças ao meu desempenho, um colégio de Fortaleza (CE), que prepara os alunos para vestibulares de alto nível, me ofereceu uma bolsa de estudos, além de verba para hospedagem e alimentação. A princípio fiquei meio inseguro: teria que abrir mão do meu curso no IFRN e morar longe da família. Porém, abracei a oportunidade. Ainda não me decidi se serei advogado ou engenheiro, mas gostaria de me formar no exterior. Sempre me lembro com emoção dos esforços da minha mãe para que seguíssemos um rumo diferente, mesmo vivendo numa comunidade marcada pelo tráfico de drogas e pela violência. Acredito que as dificuldades nos ajudam a amadurecer. Temos que enfrentá-las e seguir firmes no nosso propósito."