Crescer acreditando nos julgamentos negativos que as pessoas fazem sobre a gente durante a vida pode ter tudo a ver com a maneira como nos enxergamos hoje. Aprenda a se libertar das crenças que estão limitando seu sucesso pessoal
Nos tempos de escola, a vendedora
Mariana F.*, de 30
anos, era uma aluna exemplar.
No entanto, quando o
inglês entrou na grade curricular, ela se
viu em apuros, pois, por mais que se esforçasse,
o seu desempenho era ruim.
A mãe pegava no pé dela, os colegas
de classe riam cada vez que ela abria
a boca e a professora a taxou de “caso
perdido”. Até hoje Mariana se acha incompetente
quando o assunto é a língua
inglesa. Formada em administração, já
recusou uma promoção com medo de
ter que falar com fornecedores americanos.
Se assim como ela você coleciona
frases como “não sou o tipo de pessoa
que...”, “nunca fui boa em...”, ou “simplesmente
não consigo fazer isso”, está
na hora de se olhar com novas lentes...
Quando tudo começa
“As crenças limitantes atuam como
obstáculo à realização das metas de
uma pessoa”, explica a psicóloga Ana Maria Serra** (SP). Muitas vezes, elas
têm origem num insucesso ou mesmo
num comentário negativo ocorrido
na infância, fase em que começamos
a desenvolver o nosso autoconceito —
conjunto de ideias que temos sobre nós
mesmos. “Um importante fator nessa
elaboração é o feedback que recebemos
dos outros, especialmente das pessoas
que valorizamos, como pais, professores
e os melhores amigos”, esclarece Ana
Maria. No caso de Mariana F., é possível
concluir que a afirmação da professora
de inglês teve um peso enorme sobre
a sua decisão de desistir do idioma. “O
problema das verdades construídas a
partir da infância é que elas são rígidas,
generalizadas e absolutas. No geral,
não refletimos sobre elas”, afirma Eliana
Melcher Martins*** (SP), especialista
em medicina comportamental,
coaching e terapia cognitivo-comportamental.
Resumindo: saímos reproduzindo
o que as pessoas pregam sem
questionar ou tentar impor mudanças.
Amarras resistentes
Outros dois motivos importantes explicam
por que é difícil abandonar
os nossos pensamentos limitadores:
Ajudam a entender o mundo Relembre
os links de causa e efeito que você já
fez na vida. Exemplos: “nunca fui boa
para fazer amigos, por isso não consigo
me aproximar de ninguém no trabalho”
ou “o meu negócio não deu certo porque
sou péssima com números”. Acontece
que essas relações representam apenas
uma parte de um todo repleto de outras
implicações que levaram a situação
ao desfecho desfavorável. “Instalada a
crença, a nossa percepção fica voltada
para os fatos que ajudam a comprová-la”, diz Eliana. O que era só um pensamento,
então, passa a ser uma convicção
com dados para embasamento.
Facilitam as desistências Há pessoas
que nem esperam pelo fracasso
para largar uma batalha — elas evitam
o confronto baseadas nas suas crenças.
“Quando acreditamos que somos competentes, nos lançamos com motivação à realização de uma meta. Porém,
se nos vemos como incapazes, podemos
raciocinar assim: ‘se eu fugir dessa
tarefa, não irei amargar o insucesso e
a frustração’. Daí simplesmente fugimos”,
pontua Ana Maria. As perdas a
longo prazo, no entanto, não compensam.
“Mais do que não se dar a chance
de progredir, o indivíduo reforça a sua
crença de incompetência”, completa.
Estratégias para mudar já
Está difícil identificar as
crenças que limitam você? Converse
com uma amiga para desvendá-las.
As “verdades” ajudam a definir quem
somos e a justificar por que certas
áreas da vida estão estagnadas. Peça
para ela falar sobre as noções que
você transmite sobre si mesma.
Fique atenta aos pensamentos
e palavras. Eles modulam o seu
humor e transformam-se em atos. Um
exercício: quando uma ideia limitante
aparecer, responda de forma flexível
e realista. Exemplo: troque o “não
consigo organizar as minhas contas”
por “às vezes, perco o controle dos
meus gastos, mas sei que, se tiver uma
planilha, conseguirei me organizar”.
Tome cuidado com palavras
como nunca, sempre, nada e tudo.
Quem alimenta rótulos negativos
costuma superdimensionar as coisas.
Daí o que era um evento pontual
ganha ares de padrão.
Quando se deparar com um
desafio que a assusta, seja prática.
Defina o seu objetivo e trace um plano
de ação com resoluções que podem tirá-la do problema e levá-la
à realização. Vá avançando aos
poucos e por etapas, fazendo o
acompanhamento dos resultados.
“Alcançar a meta representa o
fi m do processo. Não alcançá-la
sinaliza a necessidade de repeti-lo,
agora com mais informações e
certa experiência”, diz Ana Maria.
Se algo não sair como
o esperado, resista à tentação
de culpar prontamente a sua
incapacidade ou dizer que estava
além dos seus limites. Revise
os acontecimentos e considere
todos os fatores envolvidos.
Esqueça a história de
evitar um problema para se
preservar do stress, do fracasso,
da humilhação... Cedo ou tarde
ele irá voltar à tona e cobrar uma
postura de você. Então, muna-se
o melhor que puder e enfrente-o
de uma vez por todas!
Falsa impressão
Ao contrário dos julgamentos negativos,
os muito positivos também podem ser
prejudiciais. Pessoas que crescem sendo
valorizadas e elogiadas excessivamente
costumam ter difi culdade e intolerância para
lidar com críticas e derrotas, que fazem parte
da vida de qualquer um. Entenda: enfatizar
as habilidades da criança é importante, pois
reforça a crença na própria competência. No
entanto, é preciso partir de uma perspectiva
realista. Não é correto, por exemplo, dizer
que o filho é o máximo em alguma coisa
se você sabe que ele não foi excepcional,
apenas agiu acertadamente. “Do contrário,
ele se desenvolve com um autoconceito
distorcido e se torna uma pessoa sonhadora,
que acredita no sucesso mesmo que as
evidências, como a sua inabilidade diante de
um fato, apontem o contrário”, diz Ana Serra