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Crescer acreditando nos julgamentos negativos que as pessoas fazem sobre a gente durante a vida pode ter tudo a ver com a maneira como nos enxergamos hoje. Aprenda a se libertar das crenças que estão limitando seu sucesso pessoal

Texto: Patrícia Affonso Publicado em 04/09/2015, às 16h11 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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a melhor versao de voce  - Shutterstock
a melhor versao de voce - Shutterstock
Nos tempos de escola, a vendedora Mariana F.*, de 30 anos, era uma aluna exemplar. No entanto, quando o inglês entrou na grade curricular, ela se viu em apuros, pois, por mais que se esforçasse, o seu desempenho era ruim. A mãe pegava no pé dela, os colegas de classe riam cada vez que ela abria a boca e a professora a taxou de “caso perdido”. Até hoje Mariana se acha incompetente quando o assunto é a língua inglesa. Formada em administração, já recusou uma promoção com medo de ter que falar com fornecedores americanos. Se assim como ela você coleciona frases como “não sou o tipo de pessoa que...”, “nunca fui boa em...”, ou “simplesmente não consigo fazer isso”, está na hora de se olhar com novas lentes...

Quando tudo começa 
“As crenças limitantes atuam como obstáculo à realização das metas de uma pessoa”, explica a psicóloga Ana Maria Serra** (SP). Muitas vezes, elas têm origem num insucesso ou mesmo num comentário negativo ocorrido na infância, fase em que começamos a desenvolver o nosso autoconceito — conjunto de ideias que temos sobre nós mesmos. “Um importante fator nessa elaboração é o feedback que recebemos dos outros, especialmente das pessoas que valorizamos, como pais, professores e os melhores amigos”, esclarece Ana Maria. No caso de Mariana F., é possível concluir que a afirmação da professora de inglês teve um peso enorme sobre a sua decisão de desistir do idioma. “O problema das verdades construídas a partir da infância é que elas são rígidas, generalizadas e absolutas. No geral, não refletimos sobre elas”, afirma Eliana Melcher Martins*** (SP), especialista em medicina comportamental, coaching e terapia cognitivo-comportamental. Resumindo: saímos reproduzindo o que as pessoas pregam sem questionar ou tentar impor mudanças. Amarras resistentes Outros dois motivos importantes explicam por que é difícil abandonar os nossos pensamentos limitadores: Ajudam a entender o mundo Relembre os links de causa e efeito que você já fez na vida. Exemplos: “nunca fui boa para fazer amigos, por isso não consigo me aproximar de ninguém no trabalho” ou “o meu negócio não deu certo porque sou péssima com números”. Acontece que essas relações representam apenas uma parte de um todo repleto de outras implicações que levaram a situação ao desfecho desfavorável. “Instalada a crença, a nossa percepção fica voltada para os fatos que ajudam a comprová-la”, diz Eliana. O que era só um pensamento, então, passa a ser uma convicção com dados para embasamento. Facilitam as desistências Há pessoas que nem esperam pelo fracasso para largar uma batalha — elas evitam o confronto baseadas nas suas crenças. “Quando acreditamos que somos competentes, nos lançamos com motivação à realização de uma meta. Porém, se nos vemos como incapazes, podemos raciocinar assim: ‘se eu fugir dessa tarefa, não irei amargar o insucesso e a frustração’. Daí simplesmente fugimos”, pontua Ana Maria. As perdas a longo prazo, no entanto, não compensam. “Mais do que não se dar a chance de progredir, o indivíduo reforça a sua crença de incompetência”, completa.

Estratégias para mudar já
Está difícil identificar as crenças que limitam você? Converse com uma amiga para desvendá-las. As “verdades” ajudam a definir quem somos e a justificar por que certas áreas da vida estão estagnadas. Peça para ela falar sobre as noções que você transmite sobre si mesma. Fique atenta aos pensamentos e palavras. Eles modulam o seu humor e transformam-se em atos. Um exercício: quando uma ideia limitante aparecer, responda de forma flexível e realista. Exemplo: troque o “não consigo organizar as minhas contas” por “às vezes, perco o controle dos meus gastos, mas sei que, se tiver uma planilha, conseguirei me organizar”. Tome cuidado com palavras como nunca, sempre, nada e tudo. Quem alimenta rótulos negativos costuma superdimensionar as coisas. Daí o que era um evento pontual ganha ares de padrão. Quando se deparar com um desafio que a assusta, seja prática. Defina o seu objetivo e trace um plano de ação com resoluções que podem tirá-la do problema e levá-la à realização. Vá avançando aos poucos e por etapas, fazendo o acompanhamento dos resultados. “Alcançar a meta representa o fi m do processo. Não alcançá-la sinaliza a necessidade de repeti-lo, agora com mais informações e certa experiência”, diz Ana Maria. Se algo não sair como o esperado, resista à tentação de culpar prontamente a sua incapacidade ou dizer que estava além dos seus limites. Revise os acontecimentos e considere todos os fatores envolvidos. Esqueça a história de evitar um problema para se preservar do stress, do fracasso, da humilhação... Cedo ou tarde ele irá voltar à tona e cobrar uma postura de você. Então, muna-se o melhor que puder e enfrente-o de uma vez por todas!

Falsa impressão
Ao contrário dos julgamentos negativos, os muito positivos também podem ser prejudiciais. Pessoas que crescem sendo valorizadas e elogiadas excessivamente costumam ter difi culdade e intolerância para lidar com críticas e derrotas, que fazem parte da vida de qualquer um. Entenda: enfatizar as habilidades da criança é importante, pois reforça a crença na própria competência. No entanto, é preciso partir de uma perspectiva realista. Não é correto, por exemplo, dizer que o filho é o máximo em alguma coisa se você sabe que ele não foi excepcional, apenas agiu acertadamente. “Do contrário, ele se desenvolve com um autoconceito distorcido e se torna uma pessoa sonhadora, que acredita no sucesso mesmo que as evidências, como a sua inabilidade diante de um fato, apontem o contrário”, diz Ana Serra