A especialista em saúde íntima, Mariana Betioli, explicou que tabus por trás do tema ainda impedem mulheres de optar pelas melhores escolhas tanto no sexo como na saúde da região
Você sabe o que te excita? Onde fica o colo do útero? Já olhou sua vulva no espelho? Essas e outras respostas envolvendo o corpo feminino ainda são desconhecidas por grande parte das mulheres. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo aponta que 40% das mulheres não se masturbam. Enquanto dados da pesquisa Novo Ciclo, estudo realizado pelo Espro em parceria com a Inciclo, indicam que apenas 46% das pessoas que menstruam recebem orientações em sua primeira menstruação. A falta de informação, de fontes confiáveis e os tabus que ainda envolvem o tema, segundo a especialista que também é CEO da Inciclo, são os grandes vilões do prazer e da saúde íntima feminina.
Saudável e recomendada por especialistas, a masturbação é um dos principais tabus e envolve, além do prazer, oportunidades de autoconhecimento para quem se toca. “A pessoa passa a se conhecer melhor, a saber como seu corpo funciona e o que mais gosta, o que acaba melhorando muito a vida sexual a dois. Além disso, fortalece o assoalho pélvico, melhora o sono, alivia o estresse, diminui a ansiedade, aumenta a libido, melhora a autoestima, o humor e aumenta a imunidade”, pontuou Mariana Betioli, que também explicou os benefícios plurais da prática da masturbação durante a menstruação.
Segundo a especialista, o orgasmo pode funcionar como fonte de alívio para cólicas menstruais. “A cólica é a contração do útero para expelir a menstruação. Durante o orgasmo, o útero também contrai, mas relaxa totalmente em seguida. Esse relaxamento é um dos responsáveis pelo alívio das cólicas. O outro é a ação dos hormônios no organismo. Durante o orgasmo, o corpo libera ocitocina, endorfina e dopamina, que vão promover uma sensação de bem-estar, relaxamento e a percepção de dor”, contou. Há ainda no período menstrual, em grande parte das mulheres, um aumento de libido que muitas vezes acaba reprimido seja evitando a masturbação ou mesmo do sexo, por causa do sangue e toda a bagunça que pode acontecer. “Nestes casos, indico o uso do disco menstrual, um tipo de coletor que é colocado no fundinho da vagina e mantém o sangue dentro do corpo mesmo durante o orgasmo. Ele possibilita que a mulher se toque, use brinquedos erótico ou mesmo tenha sexo com penetração sem que o sangue vaze”, aconselhou a CEO da Inciclo.
Entrando mais afundo no tema da menstruação, a falta de conhecimento vai além e impacta diretamente na saúde íntima. “Pouco se fala sobre a anatomia feminina e a grande parte das mulheres não conhece todas as estruturas da vulva e da vagina”, comentou.
A especialista explicou que é importante respeitar o tempo máximo de uso de cada produto para a menstruação:"É importante respeitar o tempo máximo de uso de cada produto para diminuir o risco de infecção. Os absorventes internos têm a recomendação de serem trocados a cada 4 horas. Já com os absorventes externos, a recomendação de troca é a cada 4 horas durante o dia e 10 horas durante a noite. No caso dos absorventes externos descartáveis, há outros pontos de atenção para a saúde íntima. Como são feitos de materiais plásticos, eles evitam a circulação de ar na região, o que favorece a proliferação de bactérias, causando mau cheiro e até infecções vaginais como por exemplo a candidíase ou a vaginose bacteriana. Para quem prefere o uso externo, a recomendação é a de absorventes reutilizáveis ou calcinhas menstruais produzidas em tecidos respiráveis e sem plástico”, explicou Mariana.
"As calcinhas podem ser utilizadas por até 12 horas, assim como os absorventes reutilizáveis. O tempo recomendado para o uso dos discos e coletores é de até 12 horas.", disse ela.
Mariana comentou sobre algumas dúvidas recorrentes: "Muita gente não sabe nem que a menstruação e o xixi saem por lugares diferentes. E quase ninguém sabe que nós temos 6 orifícios na vulva, por exemplo. No Brasil, nós aprendemos sobre a anatomia feminina em uma única aula de 50 minutos na escola. É muito pouco! E por essa falta de informação o resultado é um grande tabu relacionado ao corpo feminino e uma quantidade enorme de problemas de saúde e sexuais que poderiam ser evitados”.
Entre as principais regras básicas de higiene, segundo Mariana, é não lavar a vagina! “A parte de dentro não deve ser lavada nunca, nem com água. A vagina é autolimpante e lavar lá dentro só vai remover as defesas naturais do corpo. Devemos lavar do lado de fora com sabonete íntimo e enxaguar bem. Durante a menstruação, caso a mulher use absorventes, os cuidados devem ser maiores para que todo o sangue seja retirado durante o banho. Para quem usa coletor ou disco menstrual, a higiene pode continuar sendo feita da mesma maneira”, concluiu.
Mas, afinal, quais são as estruturas que compõe a anatomia íntima feminina? A Mariana Betioli preparou um guia prático sobre os principais pontos:
Vulva
Vulva é a parte de fora, onde tem os lábios internos, externos, a uretra, o clitóris, a entrada da vagina e o monte de vênus.
Vagina
A parte interna é a vagina. O canal vaginal tem de 7 a 10 cm de comprimento e no fundo dele está o colo do útero, por onde sai a menstruação. A vagina é muito elástica, as paredes internas têm ondulações justamente para poder expandir. Logo na entrada da vagina, na parte de cima, tem duas glândulas que são responsáveis pela lubrificação e é por onde sai o líquido ejaculatório. Na parte de baixo, estão outras duas glândulas por onde sai a secreção responsável pela lubrificação.
Clitóris
A ponta do clitóris fica logo em cima do canal da uretra. Ele fica recoberto por uma pelinha. O restante da estrutura do clitóris é interna; a estrutura é similar ao formato de duas pernas, que ficam em volta da entrada da vagina.
Colo do útero
O colo do útero é a parte de baixo do útero que fica no fundo do canal vaginal e por onde sai a menstruação. É essa estrutura que dilata durante o trabalho de parto para a passagem do bebê.
Qualquer pessoa pode tocar o próprio colo do útero. É só lavar as mãos e inserir um ou dois dedos na vagina até sentir uma parte mais durinha. A sensação se parece com a de tocar a ponta do nariz.
Dica
Para o uso do coletor menstrual não é necessário ter tocado o colo do útero. O coletor fica logo na entrada da vagina e não fica em contato com o colo. O disco menstrual vai ficar mais no fundo do canal vaginal. Ele fica em volta do colo do útero para conter o sangue e deixar a vagina livre para penetração.
Usar o disco e o coletor menstrual é simples e mesmo mulheres que não conhecem muito da própria anatomia conseguem usar. É só seguir as instruções básicas, que funciona muito bem. Caso a pessoa não coloque da forma correta, pode vazar, por isso o recomendado é seguir o passo a passo e usar uma proteção externa só nos primeiros dias para evitar vazamento.