Alternativa aos antidepressivos tradicionais tem menos efeitos colaterais e é mais acessível
Uma questão de saúde pública: é assim que a depressão vem sendo tratada há tempos. E não à toa: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença afeta 322 milhões de pessoas no mundo, número que só vem crescendo. No Brasil, 5,8% da população apresenta o problema, o equivalente a 11,5 milhões de pessoas — somos o país com a maior prevalência de casos na América Latina! Diante desse cenário alarmante, os médicos buscam novas alternativas que possam mudar o atual protocolo de tratamento para torná-lo cada vez mais eficiente. Uma perspectiva animadora levantada por cientistas da Universidade de Vermont (EUA) é o uso de comprimidos de magnésio. Entenda como essa descoberta, mais acessível e menos nociva que os medicamentos convencionais, pode afetar a vida de quem tem depressão.
Como surgiu a novidade
Durante o estudo, os voluntários ingeriram, por três meses, quatro comprimidos de 500 mg de cloreto de magnésio ao dia, o equivalente a 248 mg de magnésio puro. “A conclusão da pesquisa foi que independentemente da idade, gênero, raça, hábitos como tabagismo e consumo de álcool, ingestão de medicamentos ou acompanhamento terapêutico, seis em cada dez pacientes apresentaram melhora significativa em vários quesitos que avaliavam o humor. As pessoas afirmaram ainda que continuariam tomando o magnésio para o controle da depressão e também da ansiedade”, explica o psiquiatra Luiz Scocca (SP), membro das Associações Brasileira e Americana de Psiquiatria. Sabemos que o magnésio é um mineral essencial para o bom funcionamento do organismo, ligado a cerca de 300 reações e funções, como a produção de energia, a regulação dos batimentos cardíacos, a transmissão de impulsos nervosos e a boa condição dos músculos. Mas, afinal, qual seria seu mecanismo de ação no combate à depressão? “Temos conhecimento de que o magnésio melhora a comunicação entre os neurônios, as chamadas sinapses, além de ter um efeito anti-inflamatório bastante interessante”, explica o psiquiatra Acioly Lacerda (SP), professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Portanto, a resposta pode passar por aí, já que a depressão está relacionada a processos inflamatórios. “Outros fatores que merecem ser citados é o papel do magnésio na melhora da qualidade do sono — em pessoas deprimidas, o descanso fica comprometido — e na redução de dores e estafa muscular. Esses dois itens refletem muito na disposição dos pacientes”, completa a nutricionista Vanderli Marchiori (SP).
Promissor, mas não conclusivo
A possibilidade de tratar a depressão com um mineral empolga médicos e pacientes por vários motivos. “O magnésio é um elemento de fácil disponibilidade, não tem gosto, é acessível quanto ao preço e oferece pouco ou nenhum efeito colateral, ao contrário dos remédios convencionais, que podem causar vários desajustes. Em alguns casos, a suplementação do mineral pode resultar em sensação de fraqueza, náusea, diarreia, mas só em doses muito altas”, diz Acioly. O especialista explica ainda que em muitos consultórios o mineral já é um recurso utilizado contra os quadros depressivos. “Sua indicação ocorre, sobretudo, em casos mais resistentes, quando os medicamentos não dão o resultado esperado”, comenta. Entretanto, apesar de animador, o estudo americano não é sufi ciente para afirmar que o mineral cura a depressão. “Há algumas limitações. Não houve, por exemplo, o chamado grupo controle, no qual os indivíduos tomam um comprimido de placebo para comparar os resultados com o grupo que usa a medicação estudada. Também não houve o método duplo-cego, em que nem o pesquisador nem o examinado sabem o que está sendo tomado. Além disso, o estudo durou só 12 semanas. Outras pesquisas são necessárias”, pondera Luiz Scocca. Ou seja, sua utilização hoje é coadjuvante e complementar. “Ainda é importante associar o magnésio à medicação tradicional, pois ele não trata certas alterações que a depressão causa no cérebro, como o déficit da formação de novos neurônios”, diz Acioly.
Reservas em baixa
Mesmo com as ressalvas, vale a pena conversar com o seu médico sobre a suplementação de magnésio, já que a depressão é mais comum em pessoas com deficiência do mineral. E quer saber? A maioria de nós apresenta algum grau de carência. Listamos algumas razões:
✔ Nosso solo é pobre em magnésio, que é mais disponível em lugares com a presença de vulcões. Então os alimentos que comemos são consequentemente menos abastecidos desse nutriente — problema agravado pelo uso de agrotóxicos nas plantações. O mesmo vale para a água.
✔ Nossa alimentação também não é muito rica nessa substância. “Um dos alimentos que mais contêm magnésio é o grão-de-bico. Além de não ser acessível por conta do preço elevado, não é um item comum na nossa cultura alimentar”, diz Vanderli. Outras fontes: semente de abóbora, castanha-do-pará, linhaça, aveia, espinafre e banana-prata.
✔ Estamos estressadíssimas. E a produção do hormônio do estresse requer altos níveis de magnésio, levando embora todas as nossas reservas.
✔ Os carboidratos, altamente presentes na alimentação atual, requerem muito magnésio para serem processados.
✔ Alguns medicamentos, como anticoncepcionais, antibióticos e corticoides também roubam o mineral do nosso organismo.