Filosofia prega a diminuição do consumo de cosméticos carregados química e incentiva o uso de produtos orgânicos e até feitos em casa. Os benefícios? Uma beleza mais saudável e natural
Em inglês, slow significa “devagar” ou “desacelerado”. O termo se contrapõe ao fast, de fast-food, por exemplo, que sabemos que são refeições práticas, porém de baixíssima qualidade nutricional e que podem até comprometer a nossa saúde se consumidas em excesso. Hoje o mesmo conceito já se aplica à beleza: muitos produtos que prometem resultados instantâneos possuem fórmulas complexas, cheias de ativos químicos, por vezes tóxicos ao nosso organismo. “Os parabenos, sintéticos, petrolatos e metais pesados, como o chumbo, ingredientes comuns nessa indústria, além de agredirem o meio ambiente, com o passar do tempo podem provocar alergias, instabilidade hormonal, aumento nos casos de endometriose, infertilidade, obesidade e até câncer”, explica a esteticista e cosmetóloga Roseli Siqueira (SP). Temendo exatamente essas complicações, um grupo criou nos Estados Unidos o movimento slow beauty, que busca incentivar as pessoas a consumir menos e a se preocuparem mais com a procedência dos cosméticos adquiridos. Na prática, é evitar os produtos industrializados e focar nos orgânicos e nas receitas feitas em casa. Tudo isso por mais saúde e bem-estar de toda a sociedade, inclusive dos animais, pois uma das regras de ouro é não usar nada que tenha sido testado em bichinhos.
Nécessaire repensado
Como o próprio nome diz, a mudança aqui pode ser gradativa e no seu tempo. Você não precisa tomar uma atitude drástica e se desfazer de tudo o que já comprou. Até porque os produtos do movimento slow beauty costumam ser mais caros do que os tradicionais, pois priorizam o uso de ingredientes naturais de qualidade, investem em tecnologias que evitam os testes em animais e, por serem relativamente recentes no Brasil, ainda não têm produção em grande escala. Porém, o convite para começar a repensar o jeito de se cuidar continua de pé, afinal, uma pele mais esticadinha não vale o sacrifício da nossa saúde, não é mesmo? Se ficou interessada, comece fazendo uma inspeção na gaveta de maquiagens e cosméticos. Primeiro, jogue fora tudo o que estiver vencido e depois faça uma triagem, separando alguns itens que você quase não usa — as suas amigas vão adorar as doações! Tente ficar com o mínimo possível, apenas aquilo que realmente faz sentido para você. Outra dica: assim que seus produtos forem acabando, pense em substituí-los por opções com menos química. Busque nos rótulos ingredientes naturais e produtos que não tenham sido testados em animais. De pouquinho em pouquinho, você vai transformando seu nécessaire. “Para quem quer testar o conceito, eu recomendo começar trocando os hidratantes. É que a pele é o maior órgão do corpo humano e absorve tudo o que colocamos nela, transferindo todo tipo de substância para a corrente sanguínea e os tecidos internos”, explica Patrícia Lima (SP), idealizadora da marca de cosméticos orgânicos Simple Organic. Justamente por esse efeito esponja, é na pele que os resultados da desintoxicação são sentidos mais rapidamente.
Benefícios estéticos
Não dá para saber em quanto tempo as vantagens da troca de produtos aparecerão, já que cada organismo funciona de uma maneira. Algumas pessoas já respondem na primeira semana, outras demoram mais para eliminar os resíduos sintéticos e conseguir tirar proveito dos ativos naturais. Mas os especialistas garantem que a mudança vale a pena: “Com o tempo, a nossa beleza natural começa a ser ressaltada. A pele não tem mais uma película de silicone a envolvendo, mas se mantém hidratada e nutrida de verdade, profundamente. E, assim, fica mais firme, com aparência jovem e, principalmente, forte para atuar como o órgão de defesa que é”, explica Thaíne Cal (SP), uma das gerentes da marca Souvie, também especializada em produtos orgânicos. “O mesmo acontece com o cabelo, que fica mais hidratado, resistente e brilhoso”, completa.
De olho no rótulo
Por se tratar de uma tendência de mercado, muitos fabricantes estão anunciando o uso de produtos naturais, orgânicos ou veganos em suas embalagens. Porém, nem todos trazem os benefícios prometidos. Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), órgão regulador da categoria, só podem ser considerados orgânicos os itens com pelo menos 95% de ingredientes orgânicos. Se tiverem a partir de 70%, são denominados “produtos feitos com ingredientes ou matéria sprimas orgânicas”. Abaixo de 70%, são descritos como “naturais”. Atenção, ainda, para os produtos intitulados veganos. Isso quer dizer que eles não contêm nenhum ingrediente de origem animal. No entanto, podem ser completamente sintéticos! Nesse caso, ainda que preservem os bichos, não entram na categoria slow beauty e também podem ser prejudiciais à saúde. E outra coisa: os produtos com selo “cruelty free” (que não são testados em animais) podem ter ingredientes de origem animal, como leite ou mel, por exemplo. Logo, nem todos os produtos cruelty free são veganos.
Simplificando em casa
Uma alternativa mais em conta aos cosméticos prontos são as misturinhas caseiras que a gente ama. Uma das expectativas do movimento é justamente simplificar as rotinas de cuidado com produtos da natureza e que entreguem mais de um benefício. Para começar, adicione à lista de compras:
BABOSA - Suas folhas contêm um gel cristalino altamente hidratante. Ele pode ser aplicado como máscara capilar para devolver o brilho e a maciez aos fios. Uma dica é também usá- lo no corpo, como ativo hidratante e calmante. É possível cultivar babosa em casa, em vasos. Ela só não gosta de muito frio!
ÓLEO DE COCO, DE GERGELIM, DE BAOBÁ E DE OLIVA EXTRAVIRGEM - Todos eles têm propriedades altamente hidratantes e já servem de matéria-prima para diversos produtos de beleza. Puros, também conseguem resultados fantásticos! Podem ser aplicados nos fios para mantê-los hidratados e com brilho e até funcionam como opção aos demaquilantes industrializados. “Mesmo quem tem pele oleosa pode aplicar no rosto. Eles têm a capacidade de devolver vitaminas e lipídeos da cútis sem alterar a sua textura — ao contrário dos produtos sintéticos, que mudam o PH natural da pele”, diz Roseli.
BICARBONATO DE SÓDIO - Misturado, em porções iguais, ao óleo de coco e aromatizado com algum óleo essencial de sua preferência, ele compõe um substituto natural ao desodorante. Já para ter um xampu antirresíduos menos abrasivo, você só precisa misturar uma colher (chá) do pó numa porção de xampu neutro.