Todo mundo deseja uma vida longa. Mas de nada adianta prolongar os anos se eles não tiverem qualidade. E isso tem tudo a ver com a saúde cerebral. Se você não está fazendo nada por ela, precisa começar!
As capas de revistas, as propagandas,
os programas
de saúde pública... nos
lembram, frequentemente,
que é preciso cuidar da saúde do coração. E está certo: o órgão
bombeia sangue para todo o corpo
e, por isso, tem um papel tão fundamental
na nossa anatomia. A gente se
esquece, no entanto, que, para o coração desempenhar essa função, existe
alguém no comando: o cérebro. “Ele
coordena as habilidades do nosso organismo,
como um maestro regendo
uma orquestra. Para termos ideia de
sua importância, esse órgão, que não
chega a 3% do nosso peso corporal,
recebe cerca de 25% de toda a circulação
arterial”, esclarece o psicólogo
Roberto Debski (SP). Apesar disso,
até há pouco tempo mal se falava sobre
a saúde dele. Mas o cenário vem
mudando, pode reparar! Se antes a
gente deixava para se preocupar com
assuntos como os lapsos de memória só na terceira idade, hoje os esquecimentos,
as confusões e outros
incidentes do tipo já fazem disparar
alertas. A explicação para essa transformação
é uma via de mão dupla. Para
começar, o nosso estilo de vida, que
está contribuindo para que alguns
bugs no funcionamento cerebral fi-
quem mais aparentes e constantes.
“Existe hoje também uma maior percepção
das pessoas sobre as doenças
que podem afetar o cérebro, como o
acidente vascular cerebral (AVC) e o
mal de Alzheimer”, afirma o neurologista
Paulo Bertolucci, professor da
Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo (SP).
ENXURRADA DE
INFORMAÇÃO
Estamos mais conscientes sobre as
doenças que afetam o cérebro, primeiro,
por termos maior acesso a
informação hoje em dia e, depois,
por conta do aumento no percentual
de casos registrados. No caso do Alzheimer,
por exemplo, estima-se que
o número de doentes chegue a 65,7
milhões em 2030 e a 115,4 milhões
em 2050. Um estrondo! Não é que
nossos bisavós tivessem algum tipo
de proteção contra a doença. “O fato
é que as gerações atuais estão vivendo
mais. E a idade é um fator de
risco para esse tipo de problema”,
explica Paulo. O estilo de vida, por
sua vez, aparece como facilitador — e
até antecipador — de alguns esquecimentos
(e outros problemas) por
vários fatores. O principal deles, segundo
os especialistas, talvez seja o
fluxo de informações e atividades ao
qual estamos expostos, de maneira
quase ininterrupta. Acontece que a
memória está intimamente relacionada
à atenção e, convenhamos, não
andamos lá muito atentos. É aquela
coisa: a gente responde mensagens
enquanto confere as postagens nas
redes sociais, abre links para ler depois
e tenta acompanhar o noticiá-
rio na TV — tudo ao mesmo tempo!
“Quanto mais tarefas realizamos e
mais preocupações somamos durante
o dia, maior é a sobrecarga no
cérebro e a dificuldade para armazenar
as informações”, resume o neurocientista
Aristides Brito (SP). Até
mesmo as facilidades do mundo moderno
podem jogar contra nós quando
o assunto é manter nosso cérebro
saudável e em plena atividade. “Antigamente
as pessoas decoravam os telefones
dos amigos. Hoje, eles ficam
armanezados no celular, e é possível
chamá-los e até compartilhá-los sem
nem visualizar os números. O usuário, então, não grava na mente aquela
informação. Isso, com o passar do
tempo, vai diminuindo o exercício da
memória”, completa o neurocientista.
É a tal história: o que a gente não
usa vai se perdendo... Experimente
faltar algumas semanas na academia:
logo o fôlego e a massa muscular,
que você conquistou com treino
frequente, vão diminuindo drasticamente.
O mesmo vale para a memória e o raciocínio: sem treinamento,
eles vão enfraquecendo.
UMA DOSE
DE CALMA
A vasta lista de vilões da saúde cerebral
ainda não chegou ao fi m. Conhecido
como o mal da atualidade,
o estresse não pode passar batido.
Entenda, todos nós estamos sujeitos
a situações estressantes todos
os dias, e não há muito como fugir
disso. Se forem acontecimentos
pontuais, daqueles que nos deixam
tensos para que possamos reagir e
resolver, ok. O problema é quando
o quadro vai se arrastando, tornando
o nervosismo um companheiro
constante, e se transforma no chamado
estresse crônico. “Essa condição
causa um desgaste contínuo
no organismo, que fica em frequente
estado de alerta. Isso ocasiona o
aumento da pressão arterial e dificulta a oxigenação cerebral. Vale citar
que o problema também prejudica
o sono e reduz a atenção, contribuindo
para falhas na memória”,
diz o neurocirurgião Francinaldo
Gomes (SP). Não existe receita
pronta para domar essa fera: cada
pessoa precisa descobrir a sua pró-
pria fórmula, que geralmente inclui
atividades prazerosas, descanso,
exercícios físicos e ferramentas
como a meditação. “Nenhum caminho,
no entanto, será eficiente se
não buscarmos o autoconhecimento
para ditar quais são os nossos limites.
Temos que aprender a eleger
prioridades, delegar tarefas e abandonar
o desejo de carregar o mundo
nas costas”, destaca Aristides.
O que posso fazer
pelo meu cérebro?
Certos cuidados que ajudam a manter
sua mente turbinada. Não perca tempo!
GINÁSTICA MENTAL
Ler , aprender um
novo idioma, fazer palavras cruzadas,
sudoku ou crochê são boas ideias.
É que as atividades cognitivas vão
formando uma reserva de sinapses
(comunicação entre os neurônios).
“Quando aparece um problema que
afeta o cérebro, como o Alzheimer, ele
ataca primeiro as sinapses. Quem tiver
uma poupança delas vai demorar mais
para perceber o prejuízo”, diz Paulo.
CORPO ATIVO
Pessoas que fazem
atividade física têm 35% menos risco de
declínio cognitivo do que os sedentários.
“Os exercícios diminuem a atividade
inflamatória no cérebro e ativam uma
enzima que inibe a formação da proteína
beta-amiloide, que se agrupa no cérebro
e pode bloquear a sinalização entre as
células nas sinapses”, diz o neurologista.
SAÚDE EM DIA
Males como
hipertensão, diabetes e sobrepeso,
se não tratados adequadamente,
podem prejudicar a circulação no
cérebro. Estudos mostram, ainda,
que pessoas acima do peso apresentam
maior degeneração cerebral.
DEPRESSÃO PEDE CUIDADOS
“Essa doença compartilha algumas
alterações químicas com o Alzheimer,
por isso é um alerta importante”,
diz Paulo. Não deixe de tratá-la!
RELAXAR É PRECISO
Vivenciar
um estado contínuo de tensão leva
à morte dos neurônios e à formação
de sinapses ineficientes. Equilibre-se!
SONO PRESERVADO
É por meio
do descanso que o nosso corpo se
recupera e pode atuar no dia seguinte
com um bom desempenho. E o cérebro
não fica fora dessa! Além disso, é
quando dormimos que ocorre o
estágio de consolidação da memória.