Homem trans é submetido a mastectomia após ganhar causa na Justiça
“Sem a Defensoria Pública e minha determinação, nada disso teria acontecido. É uma vitória não só minha, mas de toda a comunidade trans."
Ezatamentchy Publicado em 29/05/2024, às 11h12
Assistido pela Defensoria Pública do Ceará (DPCE) desde 2022, o músico Tarcísio Brito, de 27 anos, realizou um sonho no último dia 23 de maio. Após ter diversos pedidos negados pela Unimed para ser submetido a uma mastectomia (retirada total das mamas), ele garantiu esse direito na justiça e finalmente fez a cirurgia em um hospital de Fortaleza.
Tarcísio buscava o procedimento por considerá-lo essencial para a formação de sua identidade. Ele é um homem trans. No entanto, a Unimed argumentou que a intervenção era estética, contrariando diretrizes de organismos nacionais e internacionais de saúde, além dos laudos médicos do próprio plano, que indicavam a necessidade da cirurgia.
“Sem a Defensoria Pública e minha determinação, nada disso teria acontecido. É uma vitória não só minha, mas de toda a comunidade trans. Fiquei receoso quando a Unimed finalmente autorizou, porque tive diversos pedidos negados. Estou me recuperando em casa e o desafio agora é o pós-operatório, que vai exigir cuidados por pelo menos mais dois meses e já está gerando um custo financeiro significativo”, revela.
Para aliviar o impacto na renda familiar, ele aguarda a liberação da indenização a que tem direito pelos danos morais e psicológicos causados pelas negativas do plano de saúde. A Unimed já fez o depósito do valor, que será acessado por Tarcísio assim que a Justiça autorizar.
O jovem explica a importância do dinheiro nesta fase do procedimento: “Estou com um dreno na região da cirurgia e, quando removê-lo, precisarei usar coletes especiais até o fim de julho para proteger os pontos e a área operada. Estou tomando antibióticos e analgésicos, mas a alimentação também muda e, em breve, terei gastos com fisioterapia, que provavelmente não será coberta pelo plano. É todo um processo até voltar à vida normal. E tudo gera custos. A indenização ajudará nisso.”
A Defensoria tem trabalhado para acelerar a liberação do valor. Enquanto isso, Tarcísio conta com a ajuda de familiares e amigos próximos. “Como não sabemos o motivo da demora na liberação da indenização nem quando essa espera terminará, eu fiz uma rifa e algumas pessoas se solidarizaram. Com o que arrecadei, cobri um terço das despesas: comprei um dos três coletes que preciso usar, e só aí foram R$ 240, além de parte dos remédios. Agora é esperar a juíza liberar o dinheiro”, pontua.
Enquanto isso, Tarcísio sonha com o futuro. Com o dia em que poderá entrar no mar. Renascer nas águas. “A primeira coisa que perguntei à médica foi quando eu poderia ir à praia. Quero muito tomar um banho de mar e sentir a água batendo no meu peito. É uma conquista, sabe? Uma liberdade. No dia da cirurgia, estava nervoso. Mas deu tudo certo. E hoje, após a mastectomia, posso dizer que sou eu 100%. Quero desbravar o mundo”, sentencia.
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