O Projeto T.R.A.N.S. recebe as interessadas para deixá-las mais delicadas e femininas – em uma atuação em parceria com ONGs que entendem do assunto
Faz quatro anos que mulheres trans podem acessar gratuitamente um projeto que tem transformado a vida delas atuando diretamente na autoestima: um cabelo mara, lindo, empoderado. O Projeto T.R.A.N.S. recebe as interessadas para deixá-las mais delicadas e femininas – em uma atuação em parceria com ONGs que entendem do assunto.
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Máxima foi conversar sobre essa prestação de serviço com Julio Pierezan, médico tricologista, especializado em cirurgia de Transplante Capilar, pós-graduado em dermatologia, membro da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC), da International Society of Hair Restoration Surgery (ISHRS) e da World FUE Institute, e médico diretor da Clínica Pierezan, em São Paulo (SP).
Ele decidiu criar o T de Transformar, R de Recomeçar, A de Amar, N de Nascer e S de Superar. Saiba mais na entrevista a seguir:
Há quanto tempo o projeto existe? O que te levou a criá-lo?
O projeto foi criado em 2020, quando recebemos a solicitação de três pacientes com esse perfil na clínica. Desde então, comecei a entender esse universo, sentir a dor delas e todas as dificuldades nesse processo de transição de gênero.
Qual a importância desta iniciativa nos dias de hoje?
Um estudo de 2020 da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) apontou que apenas 16,7% dos transgêneros, de 528 entrevistados, estavam no mercado formal de trabalho no Estado de São Paulo. Sabemos que há um grande sofrimento na história das mulheres trans, que vão desde a sua descoberta e autoaceitação, reconhecimento pessoal, aceitação da família e da sociedade. Tudo isso junto com uma situação financeira, muitas vezes desfavorável, que as impedem de se submeterem a esses processos de feminilização. Então, acredito que o projeto ajude nesse campo de autoaceitação, autoamor e autocuidado, mas também no campo profissional.
Como ela funciona, contribui para a autoestima e o empoderamento das meninas?
No caso específico do cabelo, muitas mulheres trans podem não se sentir confortáveis em ter a linha capilar mais alta, o que resulta em uma testa mais longa e com entradas visíveis. Ao alterar essa hairline, deixamos a área mais delicada e feminina, melhorando, sobretudo, o contorno facial, e fazendo com que essa mulher consiga pentear seus fios da forma que quiser. A sigla T.R.A.N.S. traz os cinco pilares do projeto:
T de Transformar,
R de Recomeçar,
A de Amar,
N de Nascer e
S de Superar.
Quem pode participar? Quais os requisitos? Procura quem, onde?
Qualquer mulher trans pode se inscrever no projeto através do e-mail [email protected] informando nome, idade, telefone, cidade onde mora e enviar um vídeo contando a sua história.
É gratuito? Há período de internação?
Sim, é gratuito, mas para sustentar esse projeto, a Clínica Pierezan também está aberta para parceria com ONGs focadas no atendimento de mulheres trans para fazer a indicação e triagem dessas pacientes. Não há necessidade de internação.
Qual o período de recuperação?
No primeiro dia é muito importante o repouso, devido ao uso de anestesia local. No segundo dia deve-se retornar ao consultório para lavar a cabeça e receber as orientações de como realizar esse cuidado em casa, incluindo o uso de antibióticos e anti-inflamatórios. Após dez dias, as crostas podem começar a se desprender do couro cabeludo sozinhas. Nessa fase, a higienização deve continuar com o uso de sabonete antisséptico, água com jato suave e secagem com uma toalha destinada à região. Nesse período recomenda-se dormir com a cabeça levemente elevada para não deixar o travesseiro em contato com a área operada e também evitar que os edemas se espalhem para os olhos. Também é importante evitar a exposição solar por pelo menos um mês e, se possível, evitar o tabagismo, uma vez que a nicotina prejudica a cicatrização e pode impactar nos resultados do transplante capilar. As atividades físicas também podem ser liberadas após quinze dias do procedimento.
O que é muito importante que a pessoa observe antes do (s) procedimento (s)?
É importante lembrar que antes da realização do transplante é preciso fazer alguns exames, incluindo os hormonais, para saber se eles estão estabilizados antes da cirurgia para que o fio possa ser implantado sem o risco de queda. Se a paciente tiver alopecia frontal fibrosante, só poderá realizar o procedimento depois de dois anos da estabilização da doença, pois corre o risco de perder ainda mais cabelo. Além disso, não pode ter nenhum tipo de condição na área que vai receber os fios, como psoríase, foliculite e câncer de pele. Entre os cuidados pré-operatórios também estão: manter uma boa alimentação e o consumo de, no mínimo, um litro de água por dia, evitando bebidas alcoólicas e tabagismo. Após o transplante, a paciente precisa voltar aos retornos a cada dois meses para acompanharmos a evolução do caso. Algumas pacientes podem precisar ser submetidas a uma mesoterapia, que é a infusão de medicamento diretamente no couro cabelo, a fim de potencializar o resultado. Lembrando que oferecemos o acompanhamento gratuito por 12 meses com a equipe de enfermagem e concierge, além dos tratamentos clínicos pós-transplante.
Por Ezatamentchy