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LGBT / CINEMA

Clássico indispensável do cineasta Pasolini grátis para o fim de semana!

Diretor italiano é um dos principais nomes do cinema LGBT+ de todos os tempos

Ezatamentchy Publicado em 16/08/2024, às 10h04

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Era seu propósito fazer uma representação da sociedade burguesa, sua hipocrisia - Reprodução
Era seu propósito fazer uma representação da sociedade burguesa, sua hipocrisia - Reprodução
"Teorema" (Itália, 1968) “Teorema", escrito e dirigido pelo grande diretor e autor italiano gay Pier Paolo Pasolini, é uma de suas grandes obras-primas e clássico do cinema queer. No filme, o cineasta conta a história de uma família de classe alta milanesa, pertencente à pequena nobreza italiana, formada por: Paolo (Massimo Girotti), homem dono de uma fábrica, que herdou de seu pai. Lúcia (Silvana Mangano), sua linda esposa que cuida de sua luxuosa mansão.

Pietro (Andrés José Cruz Soublette), um jovem burguês que parece seguir o caminho de seu pai, se dedica aos estudos e se diverte como todos os jovens de sua classe, praticando esportes e falando de arte e literatura. Por fim, Odetta (Anne Wiazemsky), uma filha empenhada, além da empregada Emilia, de Laura Betti.

Um visitante sem nome, interpretado por um belíssimo Terence Stamp, chega a esta família tradicional  para alterar o comportamento de todos e revelar as lacunas de cada um deles. Poderia ser ele uma força da natureza? Poderia ser Deus?

Pasolini critica a sociedade burguesa de uma forma geral e profunda, usando a própria divindade como instrumento revelador. Como Pasolini, homossexual assumido, muitos dos grandes artistas, tanto da literatura quanto do cinema, se encarregaram de criticar a classe média, desde seus primórdios até seu desenvolvimento. Um dos grandes cineastas responsáveis por fazer isso foi Luis Buñuel, de seu grande filme “O Anjo Exterminador" (1962) à comédia “O discreto charme da burguesia" (1972).

Em um ritmo lento, “Teorema" permite ao espectador apreciar e detectar os diferentes símbolos que o realizador utiliza e destaca tudo em duas partes. Na primeira, vemos um retrato da família burguesa. Em seguida, o aparecimento do "convidado" divino que se envolve com cada um dos membros da família.

Ele dá-lhes o seu amor, corresponde aos seus desejos mais sombrios e profundos, fazendo com que todos o amem e se apeguem a ele. De pai e filho a esposa e filha, todos são íntimos com o misterioso hóspede. Todos ficam felizes, até a empregada Emília, que é a primeira a ter intimidade com o visitante e levita.

A segunda parte começa justamente quando o hóspede diz à família que deve ir embora. A partir daí, cada um se despede do jovem com um monólogo, no qual se conhece individualmente o vazio existencial que possuíam antes de sua chegada, expondo a hipocrisia da sociedade, o mundo da mentira, do engano e imaginação em que vivem, onde toda "espiritualidade" ou sentido do sagrado desaparece, para dar lugar ao único deus que importa no sistema capitalista: o dinheiro.

Na saída do visitante, a conversa de cada um revelando seu pesar pela partida e seu próprio vazio, é simplesmente sensacional. Uma das mais comoventes é a da esposa, que com uma atuação fabulosa de Silvana Mangano consegue transmitir de forma absoluta todas as suas dores e tristezas, com os seus gestos e olhares.

Depois que sai definitivamente, cada um passa a vivenciar mudanças drásticas, a obra divina está feita, trouxe mudança e uma oportunidade de se comunicar com a própria essência, longe dos paradigmas e convenções impostos pela sociedade. Mas quando no mais curto espaço de tempo são abandonados, após tal revelação, o seu mundo em vez de se transformar a favor da sua própria essência, pelo contrário explode e entra em crise e faz com que cada um entre em colapso.

A intenção de Pasolini, ícone LGBTQIA+, pode parecer um pouco pretensiosa, mas era seu propósito fazer uma representação da sociedade burguesa, sua hipocrisia com os mesmos valores e crenças que proclamam, contrastando-a com a "inocência" do proletariado que muitas vezes morre em sua fé. A partir daqui e no desenvolvimento do filme, nascem muitas interpretações, que cada espectador poderá revelar segundo os seus próprios critérios.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib
Por Ezatamentchy