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LGBT / MEMÓRIA

Grupo Adé Dudu: fundação e impacto na luta contra homofobia e racismo

Organização pioneira nasceu em Salvador para dar visibilidade aos negros homossexuais

Ezatamentchy Publicado em 08/07/2024, às 11h34

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Reprodução
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O Adé Dudu, grupo social originado em Salvador (BA), buscava dar maior visibilidade a pessoas que enfrentavam tanto a homofobia quanto o racismo. O nome "Adé Dudu" vem do iorubá e pode ser traduzido como "negro homossexual".

Embora a fundação oficial do Adé Dudu tenha ocorrido em 14 de março de 1981, já em 1978, pessoas que sofriam duplo preconceito começaram a se posicionar, abrindo caminhos para a união entre membros do Movimento Negro Unificado e do Movimento Homossexual Brasileiro. Essas discussões levaram a publicações sobre o tema no tabloide homossexual Lampião da Esquina, atraindo muitos leitores que, mais tarde, se tornariam integrantes do Adé Dudu.
O nome "Adé Dudu" vem do iorubá e pode ser traduzido como "negro homossexual"

A necessidade de uma manifestação mais organizada foi evidenciada pela primeira vez na edição nº 4 de 1979 do jornal anarquista O Inimigo do Rei. A capa trazia a manchete “Além de Preto, Bicha!”, destacando a profunda discriminação social e convidando os leitores a se organizar politicamente.

O autor da matéria de capa foi Hamilton Vieira, estudante de jornalismo da UFBA, utilizando uma expressão do bailarino Dionisius Filho (Nega Fulô). Ambos se envolveram com o grupo; Dionisius foi um dos fundadores e Hamilton se tornou integrante pouco tempo depois.
Adé Dudu se encerrou sem muito alarde em 1991

Com a publicação, homossexuais negros de São Paulo, antigos integrantes do grupo Somos, fundaram em 1980 o Grupo de Negros Homossexuais de São Paulo. Este grupo atuou de forma autônoma em relação a outras organizações e durou apenas nove meses. Em seguida, o Adé Dudu foi fundado, destacando a necessidade de discutir questões específicas e se organizar em conjunto com outros grupos de homossexuais, negros, mulheres e setores populares.

Os fundadores do Adé Dudu incluíam Dionisius Filho, Antônio Carlos Conceição, Ermeval da Hora, Ernani Filho, Evilásio Santos, Genildo Souza, Jorge Santos, Marco Argolo, Marcus Mahallia, Roquinho Sóstenes (Sostinho), Tosta Passarinho, Wilson Santana e Wilson Mandela. Todos eles tinham experiências sociais distintas. Por exemplo, Wilson Mandela era economista e funcionário público, enquanto Ermeval era operário de uma fábrica e Tosta Passarinho vivia de trabalhos temporários após retornar de um autoexílio pela América Latina nos anos 70.
Adé Dudu buscava dar maior visibilidade a pessoas que enfrentavam tanto a homofobia quanto o racismo

A primeira atividade do grupo foi uma pesquisa realizada entre março e setembro de 1981 para entender melhor o perfil social, econômico e cultural dos negros homossexuais. A data foi escolhida estrategicamente logo após o Carnaval, época em que Salvador recebia muitas pessoas desse grupo vindas de cidades menores. Foram feitas 102 entrevistas em boates, praças, avenidas e praias, e os resultados foram lançados como uma cartilha distribuída em novembro, durante as celebrações da Consciência Negra.

Depois de passar a década de 80 atuando firmemente em congressos, realizando debates, fazendo parte de reuniões, entre outros feitos, o Adé Dudu se encerrou sem muito alarde em 1991. Seus membros seguiram rumos diferentes – Wilson Mandela concluiu o curso de Direito, se tornou integrante do Movimento Negro Unificado e entrou para a política partidária, enquanto que Ermeval se formou em Administração e Pedagogia, se tornou professor e vereador, além de ter entrado para a política educacional. 

Como herança do Adé Dudu, em 1995 foi fundado, também em Salvador, o Quimbanda-Dudu, um grupo de negros homossexuais ligados ao Grupo Gay da Bahia, atuando por uma década a favor dos direitos humanos e contra o racismo, machismo, homofobia e a epidemia do vírus HIV e Aids. 
Por Ezatamentchy