Mês da Visibilidade Lésbica: Às portas da Comunidade Cristã Identidade

Por Artur Vieira*

Casais LGBTQIA+ estão emergindo cada vez mais, saindo da clandestinidade e revelando-se na construção de diversos modelos de famílias. Passam a ter direitos igualados aos heterossexuais, e até alguns anos eram marcados por uma sociedade linearmente heteronormativa no seu “padrão” de construção familiar. E um belo exemplo disso é o casal de pastoras evangélicas Cleiri Irade e Dárfini Duarte, que estão juntas há sete anos e esperam a chegada do seu primeiro filho, Ravi. 

Foram cinco tentativas de gravidez. Elas escolheram a inseminação caseira, um método pouco divulgado por se tratar de baixo custo: você encontra um doador de confiança com exames em dia e introduz o sêmen do doador no útero da mulher, sem que haja sexo. Para isso, é usada uma seringa, o procedimento é feito sem ajuda de profissionais de saúde. Muitos casais, incluindo heterossexuais, têm optado por esse tipo de inseminação. 

Entrando no oitavo mês de gestação, Cleiri se vê completamente realizada pela concretização desse antigo sonho do casal de serem mães. Enão descartam também a possibilidade de adoção no futuro, já que os planos são aumentar a família.  “Nós lésbicas somos vítimas do machismo em todas as esferas”, comenta Cleiri. 

Percebendo a necessidade de inaugurar uma comunidade de fé que fosse liderada por mulheres e combatesse o fundamentalismo religioso machista e patriarcal que domina os evangélicos brasileiros, as duas foram motivadas por um grupo de amigos que reconheceu nelas a liderança para tal feito, (depois de alguns meses em intimistas reuniões de oração realizadas semanalmente em algumas casas); abriram as portas de sua própria igreja  no Distrito Federal em setembro do ano passado, com o objetivo de acolher e celebrar a comunidade queer.

Com o nome de Comunidade Cristã Identidade, a igreja pastoreada por elas nasce com diferencial em vários aspectos, não apenas por fazer uso da teologia inclusiva e se afirmar como uma igreja cristã evangélica; mas como também por trabalhar de forma prioritária a ação social e a conscientização nos seus membros de que o evangelho está totalmente ligado à ajuda ao próximo. 

Primeiro Ano da Igreja ID
A igreja no próximo mês comemora seu primeiro ano e é tão diferenciada que até a forma como lida com as finanças surpreende a todos os membros e visitantes: deixa exposto de forma transparente o destino dos recursos arrecadados - o que torna um belo exemplo que poderia ser seguido por outras lideranças religiosas que insistem em ocultar de sua membresia valores e altos salários de seus líderes. 

“Em nossa igreja, não existe um momento separado para o dízimo. Não acreditamos em arrecadação financeira por manipulação.

Figuras carimbadas nessa caminhada por levar os ensinamentos bíblicos à comunidade LGBT+ e combater a homofobia e transfobia religiosas, as duas por anos eram conhecidas por serem líderes de casais homoafetivos. Hoje conquistam cada vez mais o lugar de referência na vida de outras mulheres lésbicas, sendo convidadas a palestrar e ministrar em outras instituições religiosas do centro-oeste do nosso País. 

E no mês de setembro a programação litúrgica será diferenciada, com convidados especiais a cada domingo como: a palestrante e escritora Keila Guedes, a pastora e ativista referência no movimento de mulheres negras Wall Moraes, a participação da liderança da renomada comunidade de Goiânia: Refúgio Brasil, entre outros. E já para impulsionar as comemorações do próximo mês, no dia 30 de agosto a igreja terá a participação do famoso e polêmico Pastor Berlofa. 

Para conhecer o trabalho delas, visite o Instagram: @idnarede  

*Artur Vieira é um cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT+ desde 2013 na internet com o perfil @devoltaaoreino.